o que mais tenho feito nesse processo de amadurecimento é olhar pra trás.
revisitar a memória.
olhar para situações com outro entendimento de mim, da vida e da sociedade.
no dia dos namorados eu mostrei pro lucas a carta abaixo. ela é a prova do afeto da minha família materna. e o quanto isso foi um privilégio na minha criação. hoje tenho noção disso.
participei de um concurso literário em 2004. ganhei o prêmio na categoria infantil. eu falo sobre minha falecida avó marina.
tinha perdido o arquivo do texto e mandei e-mail para produção perguntando se eles tinham o arquivo. segue abaixo a conversa. me fez chorar de alegria.
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de: nailaflor@hotmail.com
para: jornalguarazao@ig.com.br
enviado: domingo, 2 de janeiro de 2005
assunto: Uma cópia
Olá, amigos!
Fiquei quase todo o ano passado sem acesso a internet, o computador daqui de casa pifou. Aí, eu perdi ao texto da minha redação premiada, em 2003, porque ela estava na memória do nosso computador. Por favor, caso ainda seja possível envie pra mim o meu texto. Eu me comprometo em arquivar em um disquete depois de imprimir.
Muito obrigada,
Naila Agostinho da Cruz Costa Nunes.
de: jornalguarazao@ig.com.br
enviado: segunda-feira, 3 de janeiro de 2005
para: nailaflor@hotmail.com
assunto: Re: Uma cópia
Oi, Naila,
Sentimos a sua falta!
Segue a redação de sua autoria:
Minha avó é minha amiga porque ela me atura... me ajudar a pentear os cabelos.
Quando meu pai me deixa de castigo, ela pede para ele não me deixar de castigo...
Eu amo a vovó!
Ela compra coisas que eu gosto de comer para mim e, às vezes, me leva para tomar sorvete.
Hoje, ela e meu avô me ajudaram a fazer o trabalho de casa. Ela me dá atenção, carinho e amor.
Vovó brinca de escritório comigo, de Barbie, de acampamento, de médico e viagem.
Ela e meu avô me levam para o ballet e a natação.
Viu como ela é minha amiga?
Quando ela soube do concurso falou que eu devia participar. Isso é que é vovó amiga!
Naila Agostinho da Cruz Costa Nunes
Colégio Spezani Fonseca - Magalhães Bastos
2ª série - 8 anos
Bjs,
Feliz 2005!
Ieda Thome
Guarazao
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no dia que lembrei dessa carta, eu comentei com um amigo do trabalho e ele pediu para levar no dia seguinte para ele ver. eu tinha carta impressa comigo desde 2005. sempre agradecida por guardar tralhas com cargas emocionais.
coloquei a carta na bolsa. cheguei no trabalho. resolvi fazer um scan da carta. fiz o scan. mostrei pro meu amigo. voltei pra casa. fui assaltada na porta de casa. levaram minha bolsa.
levaram minha carta.
obrigada anjo da guarda por nunca falhar.
eu tinha uma cópia da carta no meu e-mail!
porra!
resolvido.
nunca mais vou perder. a não ser que o google bloqueie minha conta por algum motivo.
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eu coloquei o nome do colégio que eu estava na carta porque eles foram a base do afeto na primeira infância.
quando meu avô morreu a diretora e a filha dela (que era minha professora e sempre foi muito querida comigo) foram ao enterro.
tantas pessoas queridas foram.
eu só entendi a morte do meu avô quando vi o caixão dele embaixo da terra.
era aquilo.
fim.
não tem volta.
ninguém nos ensina a entender a morte.
há 10 anos minha avó morreu. eventualmente percebo como eu sinto falta dela.
saudade é uma merda e existir é complexo.
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