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  • melgurgel

infinitos que se cruzam

Cresci no pé da serra e logo fui pro mar, mais um caso clássico da menina que sai do interior para estudar na capital. E até hoje não voltei pra ficar.


Sigo longe de casa, descobri outras casas, descobri outro mundo para além daquele que me era apresentado, conheci pessoas que se tornaram morada, aprendi a morar em mim.

Me falaram que aprender a morar na gente, ensina a morar no mundo.

E eu acreditei.


Vivo de passagem por Maranguape, Fortaleza, Lisboa e Porto. entre muitas coisas, sou mestre, pesquisadora, doutoranda, imigrante e fotógrafa, esse último título foi o mais difícil de entender, mas é o que é.

Já dei 28 voltas ao sol de gêmeos e sinto muita saudade de tudo.


Descobri a fotografia analógica como aliada nessas ausências sinto, aprendi a ter tempo e calma. Tento valorizar as experiências que vivo como registro do tempo presente, apresentando esse filme-vida de maneira cruzada, auto biográfica e amontoada



É difícil aceitar e mostrar que virei fotógrafa, já me perguntaram quando eu percebi que tinha virado fotógrafa e até hoje não sei responder.


Sei que eu procuro mostrar o que me encanta, o que vivo e tento diminuir a saudade,

seja por estar do lado de cá da linha do equador ou quando estou do lado de lá. Sempre estou atravessando o Atlântico, e não tem uma vez que isso não me emocione.


Aprendi a transformar essa falta constante em presença, em ponte para diminuir as tão longas distâncias e por sentir tanto dei início ao projeto “infinitos que se cruzam”, onde apresento conversas-afetos sobrepostas em fotografias analógicas de lugares nunca antes visitados, lugares-casa, amigos, desconhecidos, amores, trocas e momentos.



Lancei o projeto quando estava no último semestre do mestrado, no início da pandemia, em uma das minhas voltas pra casa,em tempos difíceis e confusos.

Então peguei toda a coragem que o mar de Fortaleza me deu e botei minhas fotos no mundo, no caso, no meu instagram (@melissagurgel) haha. Nesse mundo onde eu acredito que a fotografia juntamente com as conversas têm o poder de criar infinitas narrativas, proporcionando um exercício de ressignificação e de troca.


Ah, como boa geminiana eu comecei falando muito e não expliquei, sou engenheira com mestrado em economia e doutoramento em políticas de desenvolvimento sustentável.

Ninguém entende toda essa mistura com a fotografia, mas acho que Jorge Sousa Braga conseguiu explicar nesse trecho “É tão difícil guardar um rio quando ele corre dentro de nós” e dentro de mim corre um mar. Em uma maré cheia o projeto surgiu.

A fotografia analógica, atrelada com conversas de pessoas queridas, proporciona envolver o público e trazer para o passado das fotos as conversas/os sentimentos do presente.

E é isso que eu busco, mostrar os sentimentos do presente, do agora. Logo eu abri o “infinitos que se cruzam” para participação de todos, passei a receber conversas de terceiros e pude participar como espectadora da vida daqueles que permitem e a assim criar novas narrativas para aqueles registros feitos com tanto afeto.


Esse projeto me abriu portas, pude participar de exposições e mostrar o que vejo, o que sinto, apresentar meus afetos, vivências, partidas e relacionamentos, tendo sempre a saudade como objeto de estudo.


Ainda é difícil entender, mas contínuo e respeito minhas vontades de mostrar o que me emociona.


Ah, o “infinitos que se cruzam” ainda está aberto para participação, me manda o print de um conversa que te encanta pra gente se cruzar. Continuo esse projeto e tantos outros pelas descobertas que estão por vir e pela falta que sempre sinto.

















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