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𝑪𝒐𝒓𝒑𝒐, 𝒎𝒂𝒓𝒄𝒂𝒔, 𝒄𝒂𝒎𝒊𝒏𝒉𝒐 𝒆 𝒂𝒖𝒕𝒐𝒆𝒔𝒕𝒊𝒎𝒂.

  • Foto do escritor: lorenanunesoficial
    lorenanunesoficial
  • 5 de abr. de 2021
  • 4 min de leitura

Atualizado: 11 de mai. de 2023




Como uma foto e alguns caracteres podem contar uma história que atravessa uma vida inteira? Tudo que se refere a corpo tem princípio desde sempre e só acaba quando eu devolver esse neném pra Mãe Terra, né? Minha fala aqui é sobre como eu aprendi a me amar e amar meu corpo. Mas vou começar pela caneca.


Recebi da deusona Kamila da @vistaminieu essa caneca Girl Power pra falar um pouco sobre a empresa dela e ajudar a mana nas vendas. Beleza. Eu muito aventureira - pra num dizer pêssega - invento de botar ela no microondas pra esquentar meu café. Algo me dizia que num era uma boa ideia. Mas eu teimei e botei. Só que fiquei ali em frente em caso de “vai que explode”. Em UM SEGUNDO rolaram umas faíscas e no mesmo segundo eu parei a máquina! Ufa. Tava viva e me repetindo “pra quê diabos tu não obedece a tua intuição, Lorena?”.


Peguei a caneca com medinho... Reparo que ela ficou com umas marcas, como se fossem uns raios em boa parte dela. Fiquei ali admirando e “uau, que massa!”. Pra mim ela tinha ficado ainda mais linda. Como se aquelas marcas fossem assim algum tipo de representação do “girl power”. O próprio trovão agora tinha se desenhado na caneca e além de linda e mais poderosa, ela era única. Eu sempre gostei de me sentir única. Me assumir “diferentona” foi até uma técnica de sobrevivência. Me protegia de toda gordofobia, racismo e machismo - quando ainda nem sabia dar nome pra tudo isso que me agredia - sendo mesmo A diferente. Eu ser única me dava alguma sensação de ser melhor do que aquele padrão onde não me aceitavam porque eu não cabia. Um desdém machucado de um coração igualmente machucado.


O tempo passou, eu cresci, amadureci, investi muito em mim e em muitas terapias e hoje já entendo que não sou melhor que ninguém e que nem precisa. Não é sobre isso. Mas entendo também que existe sim um sistema muito maior que não lucra com eu sendo como eu sou e por isso faz tudo possível pra queu me sinta uma merda. Felizmente, eles perderam. Eu venci. Eu me amo e sou uma revolução que anda, fala, sente e transforma o mundo a partir de tudo que transformo em mim.





O fato é que aquela caneca me fez pensar nas minhas próprias marcas. Passei um tempo bebendo o café frio que tinha nela e refletindo sobre todo caminho que fiz pra hoje ocupar esse corpo marcado e único com tanto amor. Não foi fácil. E talvez nada do que eu fale alcance mesmo a saga de sangue, suor e lágrimas que foi e é o processo. Eu aplaudo de pé a minha e a coragem de todes que escolhem a-tra-ves-sar seus processos de cura. É selva! Sim, tem muuuuita meditação envolvida. Mas tá longe de ser qualquer imagem que se pareça com um Buda feliz sentadinho. É um trampo!


Cuidar de si, olhar pra si, se acolher, aprender a se amar e se perdoar… Filhote… É-um-trampo! É tanto que quando vc reconhece que conseguiu chegar assim num patamar que já consegue se abraçar valendo, sabe? É impossível evitar a sensação maravilhosa de “sou foda”. Porém, vale ressaltar, que não existe chegar “lá”. Sabe louça? Enquanto há vida, há louça. E enquanto há vida, há que cuidar da nossa casa. Corpo é casa.


A cicatriz que corta minha barriga foi batizada carinhosamente de July. Um megamigo há época, 2004, quando eu ainda tava no processo pós cirúrgico da bariátrica e chorava mto porque não aceitava a cicatriz, me falou assim: Vc vai ter que conviver com ela pro resto da sua vida. E ela taí pq te ajudou com algo que era importante pra você. Que tal começar a fazer amizade? Ela precisa de um nome. E ai veio July. Entre um riso bobo e mais lágrimas, começava ali um grande caminho de autoaceitação.


Eu emagreci, voltei a engordar e agora vivo o processo que me comprometi de enleve-ser. Ser mais leve. Não é sobre quantos quilos aparecem na balança. É sobre eu soltar os pesos que me impedem de voar mais alto. É sobre ressignificar mágoas em aprendizado, deixar o passado no passado e escolher ficar só com o que me eleva, com o que me engrandece. Uma vez minha irmã falou assim: “é como se você fosse uma montanha flutuante”. Clic!


Sim! Sou gigante e leve. Não é sobre estar ou não gorda. Eu hoje já aprendi a dançar entre as minhas formas porque ser mulher é ser mutante. Somos água.





É sobre ser o que eu quiser ser, da melhor maneira. Todo dia cuido pra ser a minha melhor versão daquele dia. Honrando minha história, abraçando minhas marcas. Reconhecendo que elas também fazem de mim quem eu sou. Única. Como cada ser É. Por fim, uma última história também contida nessas fotos:


Eu tinha muita vergonha dos meus braços. E especialmente vergonha dos ombros, porque nasceram estrias nele. “Como pode nascer estria no ombro?!”. Um belo dia no meu processo de terapia, levei esse incômodo logo no início da sessão pra minha querida terapêuta Degê, que me disse assim: Talvez você já possa agradecer às suas estrias por elas terem chorado tudo que você não conseguia ainda. Então eu chorei. Chorei muito.


Eu virei uma chorona, confesso. #tododiaeuchoro. Porque eu aprendi a deixar fluir tudo que me atravessa. Como as águas do rio que precisam seguir para o inevitável (a)mar. Eu aprendi que posso me permitir sentir tudo e que isso não vai me matar. O contrário. Quão mais eu sinto, mais viva eu sigo.


Como pode uma foto contar uma história que atravessa uma vida inteira? Não pode. Mas eu contei um bocado! Que em quem chegar, chegue bem. Falei com amor. 𝑮𝒓𝒂𝒕𝒊𝒅ã𝒐 pela partilha, por quem chegou até aqui e por quem está aqui comigo.

 
 
 

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