top of page
  • Foto do escritorVanessa Marques

à minha pequena furacão


era lua cheia, como no dia em que esse texto foi escrito. lua inteira, lua intensa. boa música e uma dança de corpos. corpos entregues, corpos sedentos. a pressão baixou. faltou o ar. intuição ou medo? esqueço. (não é hora de controlar) desejo.


sintonia. pulsação. um tremor. a terra parou por um segundo no segundo mais intenso da vida. é bom ou ruim? (não é hora de interpretar) é mágico. incontrolável. era ela. convicta, precisa, na certeza de que ali nesse mundo em breve estaria. semeou como flor. surgiu em meu ventre encharcado de amor. não esse amor alimentado pelo tempo, mas aquele povoado pelo corpo. conexão e prazer.


não era o momento. não era planejado. mas não evitei. chorei com a notícia. de dor, de alegria, de desejo, de fraqueza. estive de luto, confesso. uma parte de mim estava partindo para dar espaço a um novo ser que em mim habitava.


em breve, eu me tornaria mãe.


tive culpa como tantas mulheres. estive sozinha como muitas outras. mas segui. porque eu queria esse ser mais do que tudo que já quis nessa vida. um desejo enlouquecido de medo e desespero. entorpecida de tantos sentimentos. mas o desejo, só ele, era presente e forte em todos as situações. ela era minha. minha porque eu a acolhi. escolha árdua quando parte dessa concepção não deseja. ele não quer. e isso dói. dói porque ela se tornou o meu maior projeto de vida. é o melhor de mim. por isso, segui.


sigo. aprendendo que não podemos controlar o desejo do outro. confiando que mesmo nos momentos de solidão profunda, tudo se transforma. a dor passa. a solidão passa. a tristeza passa. o desespero cessa. é intenso. turbulento. não é romântico. é cruel, muitas vezes. cruel, principalmente, porque percebo o quão estruturalmente somos uma sociedade machista.


sou mulher e, por isso mesmo, não desisti. não desisto. ele não faz ideia. e lamento. não pelas dores, mas pelas alegrias que não compartilha. pelo prazer de sentir ela mexendo pela primeira vez numa madrugada de insônia, acordada de súbito por maus sentimentos, depois de uma conversa perturbada com esse que fez questão de ser frio e distante todos esses meses. o movimento dela transformou toda a angústia em emoção. ela mexeu e eu tô sentindo! uma alegria. assim como o primeiro soluço de manhãzinha.


as batidas do coração dela sentidas antes de eu adormecer. o boa noite e o bom dia compartilhados diariamente. o chute nas costelas. a descoberta de que esse bebê era uma mulher como eu! terá útero e poderá quem sabe gerar outro ser. seu nome... decidido na peça da sara antunes. rosa! a preferida pelo beija-flor.


oferecida nos dias de amores. a de tantas canções. nome da minha origem. da avó portuguesa, firme e doce. a minha pequena será parte de mim e parte de uma rede enorme de afeto que se formou ao meu redor. mãe. pai. irmã e irmão. sobrinha e sobrinhos. afilhadas. primas. primos. tias e tios. as parceiras de longa data. as que se aproximaram agora. as que eu nem conhecia. os amigos. as amigas de amigas. os desconhecidos. anônimos. uma rede forte que contribui para o nosso sustento, que me cercam de amor e me enchem de afeto.


não lhe falta nada, pequena. nunca lhe faltará nada. você chegará ao mundo envolvida por uma força inexplicável, inabalável. movimento de vida que você mesma proporcionou.


eu estou grávida. cada vez mais grávida. esperando rosa, a minha pequena furacão.




Grávida da Rosa

bottom of page