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  • Foto do escritorHelena Gusmão

respirando com aparelhos

Começo esse texto com uma afirmação, da qual muitas pessoas sabem, porém poucas agem para uma verdadeira melhora: o mercado da moda precisa de mudanças estruturais.

Na verdade, o mercado de trabalho como um todo.

Por que? Vamos falar sobre isso.


Nosso mercado de trabalho consiste em um sistema de exploração. As relações são pautadas em interesse e não em uma troca na qual há chances de “ganhar” de forma mais justa. Até porque, na maioria das vezes, os únicos que se beneficiam são os cabeças das empresas.


Parafraseando uma famosa música popular brasileira, quando analisamos essa cadeia hereditária, o rico cada vez fica mais rico e o pobre cada vez fica mais pobre. Equidade é o que nos falta, pois todos já estão cansados, cada um de um jeito diferente, das posições de subserviência e desigualdade. A individualidade e o egoísmo do ser humano são tóxicas, o que nos oferece um mercado de trabalho doente.


E por que nada disso ainda mudou? 2019, gente!

Evoluímos tanto, as pessoas estão mais conscientes, exigindo mais os seus direitos, a comunicação das marcas está mais inclusiva, só se fala em representatividade agora. Bem, digamos, que sim! Mas será que essas mudanças alcançam todos? Essas mudanças foram feitas nas equipes internas das marcas? Quando você conhece a equipe de marketing, estilo, diretoria dessas empresas, você também enxerga essa diversidade e representatividade ou nada mudou ainda?


Quando você olha, internamente, nas estruturas de cargos desses lugares, quantas mulheres, quantos negros, quantas pessoas LGBTQ+ você encontra como gestores/chefes/líderes/CEOs?

Nenhum ou muito pouco, né? Pois é!

Não adianta comunicar “inclusão” se nos bastidores, ela não acontece.


Exemplo, há pouco tempo fomos atravessados pelo escândalo da Loja Três, envolvendo casos de racismo, gordofobia, homofobia e maus tratos.

E, sejamos sinceros: isso, de fato, te surpreendeu?


Esse não foi o primeiro caso e nem será o último. Não é a primeira vez que ficamos sabendo sobre empresas e marcas que oferecem maus tratos, desrespeito e desumanidade com seus funcionários. Existe uma lista de nome que poderíamos citar aqui e dessas, nenhuma delas foi fechada ou parou de vender/lucrar. Seja nas marcas de roupa, de sapatos, de beleza, de comida, de alimentação. Do governo, as instituições de ensino e mercado financeiro. É estrutural! E exige POSICIONAMENTO.


Não adianta campanha de marketing, pedido de desculpas. Não adianta nada disso, se as atitudes por trás são vazias, frias, sem propósito e só se importam com os números (principalmente, os números referentes a venda, que é do que tudo isso se trata: a única e exclusiva preocupação com dinheiro, independente, do por quem estão passando por cima).


Diante de tudo isso, COMO VOCÊ VAI SE POSICIONAR PARA MELHORAR E DIMINUIR ESSAS SITUAÇÕES?

Vai continuar comprando nessas marcas? Vai continuar querendo trabalhar com elas? Infelizmente, só vai melhorar quando o nosso posicionamento ferir o que mais importa a eles: o bolso!

As cabeças herdeiras de negócios são cheias de preconceitos. Agora, elas estão tendo que repensar e dividir espaços na mesa com aqueles que sempre quiseram excluir. Beyoncé saiu de uma reunião com a Reebok pois, ao chegar na sala, se deparou apenas com pessoas brancas e afirmou que não se sentia representada. Logo depois, fechou parceria com a Adidas.


As vozes que sempre gritaram estão com vários ouvidos dando escuta e cobrando o que é de direitos humanos. Isso serve como uma lição que devemos levar à risca: saiba quem está por trás do que você consome e com quem você negocia. Se posicione! Ou você vai continuar consentindo com estruturas falhas e preconceituosas. E quando for descoberto, seu pedido de desculpa vai ser em vão. Na era da informação, se informar é de extrema importância. A escolha pela não informação também te faz cúmplice do que você pode escolher não participar.


Marcas: mudem as estruturas das suas empresas.


Na hora de fechar a produção, descentralizem! Tragam novas visões pra construir conceitos JUNTO com vocês. Contratem pessoas negras, periféricas, mulheres, LGBTQ+ e as coloquem em cargos de confiança.


E não façam isso pra cumprir com uma cota de afirmação de que vocês são diferentes, porque não estarão fazendo mais do que a obrigação em dar direitos e oportunidades para essas pessoas. Campanhas ruins e cheias de estereótipos só deixarão de acontecer quando tivermos olhares diferentes, com poder de decisão, nas estruturas internas. Vocês estão perdendo tempo e passando vergonha no crédito. Já deu!

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