
Diz que Maio é o mês da noivas. E quando veio o convite para falar algo relacionado a
este mês, imediatamente me veio à cabeça o primeiro casamento com o qual a gente
deveria se comprometer. Aquele com a gente mesma, aquele que promete lua de mel,
descobertas do dia a dia, crises, reconciliações... mas nunca divórcio.
Recentemente, por uma série de acasos, eu acabei passando muitos dias sozinha. A
princípio aquilo me deixou chateada: queria passar o feriado com meu namorado,
queria ter uma companhia na viagem que surgiu de última hora. Mas aí o feriado veio e eu me surpreendi com a satisfação que foi ter a casa toda para mim, o meu tempo e os meus desejos. Sem negociação. Logo depois veio a viagem e eu pude relembrar como também é bom descobrir um lugar desconhecido do meu jeito, me sentindo independente, tomando decisões e aproveitando ela, a solitude.
Conscientemente eu me dei conta do quanto que é valioso saber estar na própria
companhia e me reconectei com a Adriana que desde nova dizia que ia morar sozinha antes de se casar. Eu não sei por que eu falava isso, sempre fui medrosa e sempre gostei de estar no meio de muita gente. Ah, e sempre fui romântica. Mas eu tanto dizia isso que concretizei. Muito antes de dividir a casa com um companheiro eu experimentei esse casamento comigo mesma. Sem pensar muito, mas ritualizando e dando muito valor: algo me dizia que era um passo muito importante. Eu já tinha feito uma viagem sozinha, me arriscando a passar muitos dias na minha companhia, em outro país, sem tantas habilidades de socialização nos hostels por onde passei. E sabia que estar sozinha numa casa seria uma experiência igualmente intensa, desafiadora, mas que me encheria de coragem e orgulho.
8 anos depois deste primeiro casamento, aqui estou, cheia de coragem e orgulho. Não todo o tempo, óbvio. São muitas as situações em que me sinto sozinha, frustrada, insegura, pouco contente comigo mesma. Mas sinto que hoje eu vivo sabendo o lugar que sempre está disponível para mim: a minha casa, a minha relação comigo mesma que foi construída no seu tempo e que acredito que nunca vai deixar de ser. Como qualquer relação, para funcionar, precisa ser nutrida, cuidada. No dia a dia, muitas vezes a energia vai se dissipando para outras coisas, tem uma vida e outras relações acontecendo. Mas aí, de tempos em tempos, eu assumo o compromisso: um cinema sozinha, uma tarde no parque, um café num lugar gostoso, um livro... pequenos prazeres que têm o poder de me lembrar o quanto é bom estar comigo.
Não sou noiva, nunca fui noiva, mas se eu pudesse dar uma dica a elas neste mês de
maio seria: encontre os programas que você ama fazer sozinha, exercite ser sua
companhia por alguns dias, ou por algumas horas. Se dê atenção, se escute, se mime.
Valorize essa relação e sinta o quanto que ela te fortalece para todas as outras.
Como nada é coincidência nessa vida, para coroar toda essa reflexão que a solitude
me proporcionou, recentemente recomecei a ler bell hooks e o seu Tudo sobre o amor. O livro é essencial para todo mundo. Hoje destaco um dos capítulos que mais me pegou: “Compromisso: que o amor seja o amor-próprio”. Deixo algumas das suas
palavras:
“Quando vemos o amor como uma combinação de confiança, compromisso,
cuidado, respeito, conhecimento e responsabilidade, podemos trabalhar para
desenvolver estas qualidades ou, se elas já forem parte de quem somos, podemos
aprender a estendê-las a nós mesmos.”
Mulher, desejo que o seu casamento seja cheio de amor, de companheirismo, de
respeito e cumplicidade. Que antes de jurar amor eterno no altar, você também jure
amor eterno a você mesma, na saúde, na doença, na riqueza e na pobreza. Que você
se comprometa com essa relação, sabendo que, como diz bell hooks, amor é ação.
Coloque-se no altar e faça por você o que faria para quem vai dividir a vida com você.

Adriana Dieuzeide
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