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Foto do escritorLarissa Proença

uma carta à todas as mulheres desse mundo, com carinho.





Nesses dias de isolamento devido ao Covid-19, reatei a relação com meu moleskine de desenhos e frases soltas que costumo usar numa-madrugada-qualquer e me deparei com uma carta “de larissa para larissa, com muito carinho”. Reli e cai nas lágrimas com um misto de sorriso e agradecimento relembrando do dia em que escrevia. Era a última semana do ano de 2019, uma gripe misturada com cansaço mental em pleno Rio de Janeiro ensolarado e com boas trovoadas pela noite, onde, mais uma vez, estava em busca do meu renascimento e reorganizando todas as minhas ilhas da vida (obrigada pixar e divertidamente). Quantas vezes foi preciso renascer em meio a esses vinte e nove anos de vida? Muitas. Na verdade, em boa parte deles.


Em cada linha consegui sentir um abraço meu para comigo mesma em meio aqueles sentimentos ingênuos e de muita fé. Foi incrível receber uma carta aos vinte e nove anos do qual me descrevia muito bem do início ao fim, uma carta da pessoa que mais bem me conhece na vida (eu) e que sabe como ninguém das minhas qualidades, defeitos, marcas e passos que me fizeram chegar até aqui. Ao mesmo tempo, pensei que nunca tinha sido tão amável comigo mesma e pensei por quê diabos a gente costuma escrever tanto para terceiros e esquece de si? Por quê damos presentes, flores, gestos para uma terceira pessoa sendo que a primeira pessoa conjugada é o “eu”? Será que é por quê vivemos em busca de uma aceitação sem fim? Aquela urgência (que por muitas vezes é inconsciente) de ser aceita nos relacionamentos, nos grupos de amizade, no trabalho, na sociedade, na família e em qualquer tribo que possa existir. A gente quer ser parte do meio, seja ele qual for e por muitas vezes acabamos nos diminuindo para caber em alguma caixinha ou sendo legal além-da-conta para deixar o outro confortável e às vezes a si, nem tanto.


Não precisa me responder, mas diga pra si quando foi a última vez que você falou ou escreveu algo grandioso sobre você? Eu confesso que foi a primeira vez nesses vinte e nove anos de corpo e alma e que depois me trouxeram um turbilhão de bons sentimentos e clareza de quem sou e como me comporto nesse mundo. Ali, tive orgulho de quem me tornei, das minhas marcas que fizeram quem eu sou, das dores e dos amores nem-tão-certos, ou melhor, certos durante aquela vivência. Me senti gigante, imensa, de uma luz sem fim e queria poder dar aquela sensação à todas as mulheres que conheço pois quem sabe assim diminuiria a dor delas e tiraria a venda que muitas vezes colocamos sem nem saber que estamos sem enxergar... e digo mais, sem enxergar o lado bom, o lado do auto cuidado, do amor, do zelo que por muitas vezes deixamos de lado para não se sentir “egocêntrica”. Já parou pra pensar nisso? Que por muitas vezes a gente não se elogia ou não sabe receber um elogio, não se diz palavras de carinho ou nos enaltecemos com receio de estarmos sendo, julgadas, egoístas ou egocêntricas...

E por isso, mais uma vez, lembro da conjugação do presente do indicativo que tanto aprendemos na escola durante nossa infância:

                        Eu (me) amo

                        Tu amas

                        Ele ama

                        Nós amamos

                        Vós amais

                        Eles amam

            O “eu” vem sempre em primeiro lugar, lembrou?


Na mesma hora, abri o Whats App e reabri uma conversa que tive no mesmo dia com uma amiga que estava passando por um perrengue-da-vida e sugeri que ela fizesse duas coisas: a primeira era uma lista de tudo o que ela não gosta x o que ela gosta e a segunda era que ela escrevesse uma carta para si, garantindo que a partir desta carta ela ia passar a se enxergar com muito mais zelo e braços largos quentinhos e cheios de amor (próprio, é claro) Por fim, ela me escreveu emocionada agradecendo: nunca pensei que fosse esse ser tão bonito e grande ler sobre mim, sou incrível! E muito obrigada por isso.


Agora lhe dou esse dever de casa que vai te fazer agradecer todos os dias por ser quem tu és e como chegou até aqui: uma carta para você mesma, com carinho.

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