Ananda Costa
resenha: livro Mônica vai Jantar, de Davi Boaventura
Não foram poucas as vezes em que abandonei um livro pela metade, ou mesmo antes, mesmo além da metade. Mônica vai jantar, de Davi Boaventura, é um livro que não pode ser abandonado, e, caso o façamos, o fazemos com um sentimento de apneia que só se resume no momento em que chegamos ao primeiro ponto final – que surpreendentemente se encontra na última página do livro.
Não é comum toparmos com uma narrativa que exige de imediato tanta fidelidade do leitor, uma característica interessante considerando-se que um dos eixos temáticos do livro é a perda de confiança e o sentimento de abandono que provém disso.

Passamos algumas horas na vida de Mônica, dentro dela, vivendo seus pensamentos, memórias, dúvidas, a partir do momento em que descobre que seu parceiro se masturbou em um ônibus. O fluxo da narrativa não dá trégua, e pausas para respirar são raras; de repente não conseguimos mais nos separar de Mônica e suas digressões, confundindo-as com as nossas próprias experiências. Pouco a pouco, certezas e surpresas começam a se revelar como incertezas ou não tão surpreendentes assim; afinal o inconsciente se junta ao consciente.
Chegado o tão esperado ponto final, me senti invadida por um sentimento solitário de que tudo é tão mundano, e de que nossos planos e esperanças mais íntimos, que retém nossos pensamentos por anos, podem ser tão vazios quanto observações corriqueiras. Ainda assim, eles não são em vão, e apenas a empatia pode nos salvar de nós mesmos.
Mônica vai jantar, de Davi Boaventura
Não Editora/Dublinense
Lançamento 20 de maio
Livraria LDM - Salvador, Bahia
18h30