é maravilhoso viver e sonhar um mundo de oportunidades que fazem nosso olho brilhar. ser mulher e poder ser o que quiser. seja ser ceo, ou não, mas poder ser livre pra escolher.
ter "meios de", ter acesso, ter possibilidade, ter exemplos para se inspirar nessa construção de ser aquilo que a gente acredita e naquilo que a gente deseja conquistar.

até porque mais da metade da população brasileira é feminina: são 104.548.325 mulheres, e 98.532.431 homens (dados recentes do Instituto brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
a gente sabe que até pouco tempo atrás, pra uma mulher tirar o passaporte, o marido tinha que autorizar. sabe que mulher não podia ocupar cadeira na academia brasileira de letras, nem expor seu fazer artístico. é só lembrar de importantes nomes que foram apagados por seus companheiros amorosos (ou desamorosos? que atitude mais sem amor!)
em 2024, adoraria escrever que "deveria ser óbvio ser mulher e poder fazer escolhas saudáveis no mercado de trabalho". mas ainda não é, e está longe de ser.
por isso mesmo, acredito que a gente precisa olhar para algumas questões que muitos insistem em jogar pra debaixo do tapete.
os dados das pesquisas globais são alarmantes. a pesquisa de liderança Reykjavik mostra que 53% dos homens líderes no Japão, Estados Unidos e Alemanha se declararam desconfortáveis com a possibilidade de ter uma mulher ceo em suas companhias.
fato curioso: quando escrevo "mulher" antes de "ceo" no parágrafo acima, o google pede pra substituir "ceo" por "cega". invisibilizadas até pro google.
voltando… a questão ainda é ampliada quando percebemos o tipo de ambiente de trabalho num mundo corporativo feito por homens pra homens.
60% das mulheres em cargos de liderança já receberam propostas sexuais no ambiente de trabalho. 65% já se sentiram excluídas de eventos sociais do trabalho somente por serem mulheres. 84% já escutaram que são muito agressivas em sua atuação profissional. os dados são da pesquisa no vale do silício, feita pela BBC news.
outro relatório que traz os principais desafios no mercado de trabalho é o Women At Work. os elevados níveis de stress, as pesadas cargas domésticas, a falta de apoio no local de trabalho para os desafios de saúde física e mental e as preocupações com o trabalho flexível continuam — e quase metade das mulheres ainda enfrentava comportamentos não inclusivos no trabalho.
leio relatos nos grupos de whatsapp que os chefes abusivos dão prazos de criação surreais, zoam se a "mulher está medicada o suficiente", riem de problemas relacionados à saúde mental, demitem mulheres grávidas. leio isso todos os dias - e eu não estou exagerando ao escrever literalmente "todos os dias".
eu sei que conquistamos muito. mas, olha, tá longe ainda de ser saudável. lembrando que temos muitas mulheres empreendedoras incríveis, mas sabe por que elas decidem empreender? muitas para administrar o tempo de cuidado com sua casa, filhos e afazeres domésticos, o que também é trabalho - mesmo que a maior parte dos homens tenha a facilidade conveniente de não enxergar e de não valorizar.
segundo levantamento do Serviço Social do Comércio (Sesc), mais de 80% das mulheres que empreendem no Brasil o fazem por necessidade ou por falta de emprego. já o relatório do GoDaddy confirma a tendência, mostrando que 18% investe no próprio negócio por necessidade de uma fonte adicional de renda.
não dá pra romantizar ser mulher e ser ceo no brasil e no mundo. dizer que: "chegamos lá" não é sinônimo de felicidade. muitas vezes significa o contrário. não adianta a gente tentar se encaixar num mundo que não foi construído para nós e nem por nós. pertencer é diferente de se encaixar.
acredito muito que o primeiro passo é falar sobre. compartilhar experiências. ampliar nossa consciência sobre a roda cruel do sistema econômico que a gente vive. e poder, diariamente, trabalhar nesse desparafusar de engrenagem - juntas e de mãos dadas, e também ao lado dos homens que genuinamente Iutam por nossas causas.
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